17 outubro, 2017

AS CONTAS DO FC PORTO.


Foram apresentados os resultados da FC Porto SAD na semana que passou e o prejuízo obtido não espanta ninguém minimamente atento à realidade financeira do clube, principalmente nos últimos 4/5 anos - Relatório e Contas Consolidado 2016/2017 e Relatório e Contas Individual 2016/2017.

É óbvia a relação entre os resultados desportivos e económicos de qualquer clube, mais do que diretamente relacionados, há uma relação de ciclo vicioso entre os fatores desempenho desportivo e económico, ou seja, quanto melhores são os resultados desportivos, melhor é a situação financeira do clube, quanto melhor é a situação financeira, mais possibilidades existem de contratar melhores jogadores, que consequentemente podem levar a melhores resultados desportivos.

Nos últimos anos, a degradação dos resultados económicos foi acompanhando os maus desempenhos desportivos da equipa conduzindo ao atual ponto onde estamos: sem poder atacar o mercado como se devia e como era necessário para suprir lacunas no plantel que existem, que não deixaram de existir pelo facto de Sérgio Conceição estar, até agora, a fazer um bom trabalho a todos os níveis, disfarçando de forma excelente os pontos fracos de uma equipa, que no ano passado nada ganhou.

Olhando mais em detalhe para as contas do FC Porto, no que diz respeito aos proveitos operacionais, excluindo proveitos com passes, a grande melhoria em relação ao ano anterior deve-se, em grande medida, à evolução dos proveitos com provas UEFA (para o qual a passagem aos oitavos da Champions contribuiu decisivamente) e dos proveitos com bilheteira, estes em resultado de uma aproximação clara entre a massa associativa e a equipa, mérito de Nuno Espirito Santo, que apesar de alguns defeitos, também teve muitos méritos no ano passado. Estas duas rubricas representaram um acréscimo de 20,6M€ face ao ano transato, sendo que as restantes rubricas de proveitos não apresentaram alterações significativas.

Relativamente à questão das receitas, o caminho a seguir passa inevitavelmente pelo que se fez no ultimo ano, ou seja, obtenção de pelo menos os oitavos-final da Champions League, o que garante sensivelmente cerca de 30M€/ano, bem como garantia de um montante significativo de receitas decorrentes da bilheteira, que em 2016/2017 atingiram quase 8M€/ano, para as quais contribuem decisivamente a competência quer dos jogadores, quer do treinador, quer da SAD. São estas rubricas as que mais dependem do desempenho desportivo, as outras duas rubricas mais relevante são os direitos de transmissão (23,9M€) e publicidade e sponsorização (14,1M€), sendo que estas do ponto de vista teórico, com o contrato realizado com a Altice estarão assegurados nos próximos anos sem grandes oscilações, mesmo que o desempenho desportivo não seja positivo.

Quanto à estrutura de custos, a rubrica de custos com pessoal representa 60% do total de custos operacionais (excluindo custos com passes) e é claramente a rubrica de custos que mais importa discutir, sendo que das restantes, fornecimentos e serviços externos não tem grandes oscilações de ano para ano, bem como amortizações e outros custos que não representam grande relevância na estrutura de custos.

Sejamos realistas e não tenhamos medo das palavras, é muito mau, péssimo diria mesmo, que o volume de custos com pessoal do FC Porto seja de 73,2M€/ano, um valor muito acima daquilo que tem sido os desempenhos desportivos da ultimas 4 épocas. Tem-se gasto demasiado dinheiro com ordenados de jogadores, para o desempenho desportivo da equipa, e esta é obviamente uma verdade inquestionável no universo portista. Durante anos alertei, mesmo neste blog, para a imensidão de jogadores emprestados, contratados sem razão aparente e outros que nunca ninguém percebeu porque alguma vez assinaram contrato com o FC Porto. Pois bem, na apresentação dos resultados, Fernando Gomes, administrador da SAD, falou numa “simples medida de gestão” que iria poupar cerca de 21M€/ano. Que “simples medida de gestão” é esta?

É algo que já deveria ter sido feito há vários anos, ou seja, dispensar um conjunto de jogadores que tem tanta utilidade para o FC Porto como a de uma guitarra num funeral. A questão que coloco é: foi preciso chegarmos ao ponto de estar sob alçada do fair-play financeiro da UEFA e com uma situação financeira delicadíssima para perceber que o único caminho possível era dispensar jogadores tais como, Fernandez, Ricardo Nunes, David Bruno, Rodrigo Soares, Lichnovsy, Abdoulaye (é assustador pensar na quantidade de anos que esta amostra de jogador esteve vinculado ao FC Porto), Bolat, Ghilas, Angel, Fidelis, Tiago Rodrigues, Pité, Zé Pedro, Kayembe, Sambú ou Sami. Gastou-se vários milhões de € em salários de gente desta para quê?!?!?!?! Não se percebeu atempadamente da mediocridade e inutilidade destes jogadores para um clube como o FC Porto. Há casos e casos, qualquer clube tem de ter um leque de jogadores alargado, emprestar alguns e ter paciência com outros, mas este leque de jogadores que enumerei são jogadores do mais fraco e medíocre que os meus olhos já viram, e muitos deles estiveram anos e anos vinculados ao FC Porto por obra e graça de quem?!?!?!?!?!

O caminho aqui é apenas um: reduzir a brutal estrutura de custos com pessoal. Bem vistas as coisas, reduzimos agora 21M€, que poderá levar o total de custos com pessoal para uns 55/60M€, contando também que irão haver valorizações salariais (Aboubakar já teve uma) e jogadores que entram. É perfeitamente possível com 60M€ de gastos com salários construir um plantel competitivo que possa pelo menos lutar pelos títulos internamente.

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