05 abril, 2017

ALIADIZEMOS!


[REWIND] 31 de MARÇO. Tenho andado oh tão feliz da vida. O meu Porto como que a renascer das cinzas de 4 anos de incêndios, secas, cheias, maremotos, furacões, queimadas e todo o género de inclemências e cenários apocalípticos… a ganhar pontos e a espalhar pétalas de rosas em horas mais leves, radiosas, inspiradas e diáfanas. Nem o afastamento nos quartos de final da Champions League às mãos da Super-Mighty Juventus me causou grande mossa. Era um desfecho esperado, vencedor anunciado numa jornada dupla e algo estranha. É verdade que esta porcaria já enoja e que em circunstâncias normais me mereceria muito barulho e much ado about all this european and giants shit, mas por ora – que os tempos são parcos e de míngua - os recursos terão de se circunscrever ao círculo e circo nacional, onde a querida UEFA não sabota os clubes pequenos e onde o bolo financeiro no futebol está ainda a anos-luz (porra, que até esta palavra conspurcaram!) de ser o mais importante no critério de favorecimento das equipas. Aqui ainda reina o mais puro dos amores, o proselitismo e a nacional-propaganda. Até nisto estamos atrasados.

Pelo que continuei de sorriso fácil, porque o objectivo de aliadizar* em Maio (por mim pode até ser em Abril, não me causa transtorno!) se começara a tornar mais palpável, bem menos impossível, molusco cefalópode de tentáculos e tudo. A mais bela das esperanças a instalar-se. Aquela que torna bonito o feio dia. Vá… confesso: o jogo da mala frente ao AJFC** (aka, Vitória de Setúbal) deixou-me arrasada. Tudo como dantes, mas esbanjamos uma golden oportunidade de recuperarmos o 1º lugar sem condições, o lugar que é nosso por natureza e do qual andamos arredados há tanto, tanto tempo, ainda as galinhas tinham penas e alguma vergonha no focinho. E as dúvidas dos efeitos psicológicos na tenrinha equipa assoberbaram-me. Aliado a isso, a semana de pousio para os jogos da Selecção, busto do CR7 incluído, apenas prolongou o estado de alma. Uma alma há muito inquieta e ansiosa pelo dia 1 de Abril no antro fétido e último reduto dos coisos.

Amanhã é o dia D deste campeonato, mas até que pode nem o ser, já que – ai, que custa tanto escrever isto! - ambas as equipas podem ganhar e depois perder estrondosamente pontos onde menos se espera. Amanhã é o dia em que se pode decidir o campeão nacional, aquele dia em que podemos subir e não mais descer nem que os porcos grunham e a vaca tussa, aquele dia em que queremos mostrar a raça, a mística, a fé, a glória, a classe, o orgulho e a fibra de que somos feitos, aquele dia em que queremos esfregar nas fuças dos trolls a nossa superioridade a todos os níveis, aquele dia em que queremos servir doce, fria e sumarenta a vingança das nossas almas, aquele dia em que queremos fazer ajoelhar os infiéis, calar aquelas matracas de fanfarrões… aquele dia em que queremos honrar o nome do clube que somos.

Mas hoje é ainda a véspera do Dia D que tão difícil e complicada é de viver e sentir e passar e ocupar. Um nervoso miudinho e miudão de querer que os ponteiros voem e depois receio e pavor porque estão a voar. Aquelas ambivalências dos adeptos de futebol. Porque queremos alegria e euforia e deleite de todos os sentidos e saber perfeitamente que podemos nem sequer os cheirar. Hoje é o dia em que se fervilha, o dia em que se imaginam cenários, o dia em que se procura o camarada Portista, em que se vêem vídeos e textos motivacionais, o dia da tempestade tropical de likes e adoros no Facebook, o dia em que se ouvem os cânticos mágicos, o dia em que se recorre a tudo o que mexe e não mexe para fortalecer a alma e se preparar a jornada. O dia dos embates entre o peso da nossa carcaça mortal e a leveza do nosso espírito, entre o racional e o religioso, o supersticioso e o sagrado. O fio de pensamento é só um. E o ponteiro que não se mexe.

Por me conhecer sobejamente e saber como vivo os clássicos no covil dos orcs (ao longo dos anos criança, adolescente, mulher, adepta à beira de um ataque de nervos -- e na iminência de colapso cardíaco) e dada a repugnância, a enorme revolta, a indignação, a raiva, a tristeza (vá... a fominha também) acumuladas durante as últimas 3 épocas e mais os longos meses da que ainda se joga decidi que, a bem da Humanidade, não tenciono, não posso ver o jogo. Primeiro, porque não pretendo morrerBARRAsuicidar-me e porque desejo que a minha filha tenha mãe ainda por uns bons aninhos e completamente sã de cabeça. O meu pobre coração (dilaceRado e fRagilizado que anda) não vai aguentar e o meu estômago sempre foi delicado. Se com Bragas e Setúbais foi o que sei, amanhã não posso arriscar. Entretanto, procurarei métodos e formas e programas de evasão. Estou num ponto em que pondero tudo: desde praias solitárias e longe de tudo e todos, acunpunctura, cinema de headphones nos ouvidos, sequestros cirúrgicos, arrumações de Primavera, calmantes cedidos por alguém, ginásios, pancadas na cabeça, grutas escuras e sem wi-fi… Por aí.

Que os jogadores saibam honrar a Camisola que têm a incrível sorte de vestir e usar junto ao peito enobrecido por ela, que dêem tudo pelo que Ela representa… se não tanto para si, para os seus adeptos. Que nada Lhe recusem. Lhes recusem. Que vistam a capa de heróis e que resistam a tudo o que for provocação australopiteca. Que dêem brilho aos nossos sonhos. Eles têm de pagar. É até ao osso, até à última gota de suor e adrenalina. Nada interessa a táctica. Queremos é sangue a correr quente nas veias, raiva, ganas y ilusión (sim, não o consigo esquecer, que querem?), a vontade de os reduzir às pilecas choronas, mimadas, reles e batoteiras que são.

Que os nossos adeptos, os nossos irredutíveis adeptos tenham a alegria que tanto merecem, que há tanto merecem. Os que ficam… a puxar cabelos, a roer unhas, a esfolar joelhos e a esfregarem as caras. Os que vão… quais guerreiros e guardiões do Templo, munidos de cachecóis, bandeiras, braços, mãos, pés, pernas, vozes mais ou menos afinadas e boletim de vacinas actualizado. Que vejam recompensada a coragem de entrarem na antecâmara pútrida de Hades.

[…] [FAST FORWARD de sofrimento intenso]
2 DE ABRIL. Ah, tremenda decepção. Falhei em alhear-me do jogo, falhou o pizzi na tentativa do quinto amarelo e falhamos novamente no assalto ao primeiro lugar. Falhamos também em meu entender na abordagem ao clássico: um empate, um mísero empate NUNCA é suficiente na casa do inimigo figadal e principalmente por estes dias de náusea PFEC, Processo Fascizóide em Curso.

Mas que penalty qual quê, porra? Aquilo na minha terra nunca é penalty (e acreditem, nós por cá sabemos bem, bem até demais o que não são penalties, pois raramente nos são concedidos!). O Jonas Pistolas – um nome à altura do intelecto de quem o inventou… loas pois para essa pessoa – é uma sereia nas águas cristalinas da sua piscina imaginária, um portento na arte do mergulho, natação e natação sincronizada. À beira dele, o Greg Louganis, a Esther Williams e o Michael Phelps não passam de meninos, meros aprendizes. Notas soltas: o San Iker voltou a ser assombroso, o Soares está como que a murchar, a gestão dos amarelos preocupa-me e de que maneira, achei lindo o supremo capricho do destino de ter sido o Victorio Maximiliano a marcar o golo que os matou (TWISTED, yeah!) e não gostei nada, mesmo nada que os nossos responsáveis não tivessem apontado o dedo a mais uma xistralhada e ao branqueamento OMOiano e neoblanquiano a que se assiste (curiosa, estrondosa, cómica e estupidamente foi o spordém a fazê-lo no nosso lugar!)


Os monstros são reais e parecem pessoas normais. Uma observação mais atenta e revelam-se benfiquistas. Uma maneira de ver e fazer e jogar e manobrar o futebol que é de revirar as entranhas ao mais insensível dos adeptos. IGNOMÍNIA TOTAL. Não entendo, não concebo como é que um clube que manda e controla e manipula quase a seu bel-prazer o raio dos meandros de todo o país e nas mais diversas esferas e instâncias, com a faca e o grande, bruto queijo na mão, se pode borrar/acaguinchar/piar/grunhir de pavor autêntico perante o intenso e óbvio crescer da onda azul e branca, à força pura e bruta dos seus adeptos. Foi eloquente a imagem do presidente da Escória aconchegadinho na tribuna entre o Primeiro-Ministro e o Ministro das Finanças, em plenos dias de compras, dramas e resgates. O contribuinte aflige-se com o que já pagou e ainda vai ter de pagar e estes marmanjos parasitas (figuras de Estado!) ainda têm tempo e o desplante de ir ver o seu benficazeco, bebendo cocktail e tremoços, soltando risadinhas e batendo nas costas de um criminoso e traficante que é SÓ um dos maiores devedores à Banca!

Os Aliados continuam a ser, apesar de tudo, do esbanjamento e de algumas debilidades, o Objectivo Uno. Continuaremos a sonhar com eles e na sua doçura. Enquanto houver estrada, como diz o outro. Enquanto nos deixarem. Pensar que tudo é possível. Pensar que faremos a nossa parte e que venceremos todos os jogos até ao fim. Pensar que sim.

(THIS IS US). COMO NEGAR ESSE PRESENTE A ESTA MARAVILHOSA GENTE? COMO?


* neologismo da língua portuguesa, 31 de Março de 2017, DC.
** Anti-Jogo Futebol Clube.

2 comentários:

  1. Upa, upa! Com flashback e tudo para o momento anterior ao jogo.
    Por mim não tenho tantos pruridos. Não me fez nenhuma mossa seguir o jogo no próprio dia acantonado no sofá que tantas alegrias já me deu. Estou tarimbado há muitos e muitos anos. Sofremos pesadelos imemoráveis, até que de repente catrapus! Lá vieram 30 anos de glórias!
    Só hoje dia 6 vi o seu (como sempre) excelente artigo e venho cumprimentá-la com o beijinho do costume.
    Muito obrigado por nos ter transmitido os sentimentos de uma grande portista.

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