26 novembro, 2015

COMO TREINARES O TEU DRAGÃO.

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

À primeira vista parece complicado e uma tarefa algo hercúlea, própria para homens de barba rija, mas é na realidade fácil, pelo que não entendo -- juro que não entendo -- quando um treinador que vem para o meu clube no início, meio ou fim de uma qualquer época não consegue atingir os objectivos traçados pela sua Direcção: ser Campeão Nacional. Pelo caminho, conquistar o que há a ser conquistado. (obs.: A Taça A Que Quase Ninguém Liga não pertence a este rosário. Peaners. E peaners são para os macacos arraçados de pavões, que fazem um autêntico festim com eles, confetizinhos brilhantes e pódios e os raios que os parta e tudo).

Treinadores visionários, fora do seu tempo, dignos de lenda, conseguiram-no, ao mesmo tempo que romperam barreiras e quase leis, furaram centralismos e ditaram os alicerces e os pilares do Clube que hoje somos. Treinadores maravilhosos conseguiram-no com brilhantismo e coragem, acrescentando ouro e prata às toneladas de quilo, monopolizando brutal espaço de museu. Treinadores bons fizeram-no com entrega, trabalho, brio, golpes de sorte. Autênticos milagres. Com Kelvins. Outros, meramente razoáveis, fizeram-no a custo, a ferro e fogo. Uns jogaram um futebol comezinho, entediante e patrocinado pela mosca tsé-tsé, mas lá entraram na galeria dourada. Todos com mais ou menos paixão, sangue, horrores de suor e lágrimas. Muitos com amor. E glória. Alguns mostravam uma barba incipiente, outros nem barba tinham.

Mas outros houve que não deram em nada. Que falharam por pouco ou rotundamente. Com estrondo. Com eles ríamos para não chorarmos. Outros saíram ainda antes do fim da festa (se é que a houve) por uma tímida e humilhante porta dos fundos que entretanto se escancarou.

Inaceitável. Incompreensível. Pergunto: qual a dificuldade de treinar o melhor clube do mundo? A papinha não está toda feita? Os jogadores não são do melhor? O staff? Toda a Máquina? As condições de trabalho? A envolvente? A História não verga, torna humilde e apaixona para a vida? Qual?! Qual a grande dificuldade e supremo problema de nesta altura do ano (passados que são Agosto, Setembro, Outubro e praticamente Novembro!) ter uma equipa afinada, motivada e alerta?! Qual? Sinceramente não entendo. Se um treinador conhece os seus jogadores (há anos, ou meses e meses ou semanas e semanas…) como ninguém, trabalha como eles diariamente, no que isso representa em matéria de treino e palestra e tempo de jogo, como não ter uma equipa oleada e de espírito combativo nesta altura do campeonato? Como?

Tudo deveria ser feito com uma perna às costas e já com o treinador repimpadamente de comando na mão semi-deitado no sofá. Corrigir com gestos, repreender com um ou outro berro o jogador mais distraído nesse dia e a essa hora. Sempre presente. Atento. Ora camarada, ora paternal, sempre didacticamente. Não bastaria ser incansável, dedicado e honesto. Não bastaria ter capacidades, saber todas as teorias do futebol de A a Z e mais letras houvesse. Não bastaria saber ler o jogo, defender o clube perante as investidas babuínas que fossem surgindo, tão certas como serem quatro as estações do ano ou a Häagen Dazs ter o melhor gelado. Não. O Dragão – orgulhoso, guerreiro, conquistador, altivo – EXIGE ter um líder sentado nas suas costas que o prepare para lidar e abordar a pressão, reduzindo-a a cinzas. Que não o deixe falhar nos pequenos ou grandes jogos, frente ao fófy Angrense ou a um feroz Bayern de Não-Sei-Quantos. Que quando faltarem as forças e o discernimento, surja em todo o seu esplendor de treinador azul e branco e saiba motivar, unir, combater. Que não entre em pânico. Que saiba inverter um resultado negativo. Que não seja teimoso e não coloque o monumental real ego à frente dos interesses do clube que defende. Que lhe solte a labareda. Que lhe dê as asas de que tanto necessita para voar. Porque um Dragão, simplesmente, não fica em terra. É anti-natura.

Surgem árbitros habilidosos e de barriguinha cheia? Sem problemas. De uma forma ou de outra, seremos superiores a isso nem que para tal se tenha de comer a relva ou a mera tentativa de relva. São 90 e pico minutos, 11 jogadores bem-formados e de nível. Algum simplesmente TERÁ de resolver. Que se safem. Vêm autocarros de n andares? No problem. Podemos até esbarrar uma vez, mas aprendemos e passamos a tirar passe de rede geral e incluímos nas rotinas semanais horas apenas dedicadas a usar/contornar esse complicado meio de transporte. Jogadores desmotivados e desinteressados? Bancada que se faz tarde e há mais quem queira.

Jogar sempre de igual forma e com a mesma vontade perante os diferentes adversários, saber que cada jogo é composto por duas partes de 45 minutos e que não se deve entregar nenhuma de bandeja ao inimigo, comer a relva mesmo que não se tenha fome, disputar cada bola, cada lance, respeitar os adeptos que por si cantam e choram e, acima de tudo, honrar a Camisola, a Memória e a História. SÓ e APENAS. Qual o drama? Não vejo nenhum. Se se esquecerem mariquices e tiques que para nada ou a poucos interessam, a coisa torna-se verdadeiramente fácil.** Ao fim de algum tempo, se não é ou fica fácil, é porque algo está a falhar. É porque alguém não está à altura. Alguém não tem a arte ou a capacidade de mudar e moldar o futuro de homens e dragões. Alguém que desce da estátua entretanto edificada. Alguém que já vê criticado o seu penteado.

A porta dos fundos começa a abrir. Devagarinho…
A da frente também. É praticamente em simultâneo.

Enquanto isso, o Céu continuará a ter Dragões. E homens montados nas suas costas.
Sorrindo.

** Como antes era tirar um chupa-chupa a uma criança ou um campeonato aos clubes de Lisboa.

8 comentários:

  1. Como é complicado comentar isto. Como. Defendi o treinador até à exaustão. Vi sinais positivos, mesmo nos resultados menos bons onde outros já viam a desgraça a aproximar-se. Lutei e aguentei até o de pude mas terça, ver aquilo in loco foi demais. Apatia quando se exigia reacção, barafustação quando o motivo era irrisório, descoordenação, desorientação e sensação de impotência e conformismo. Já para não falar da tentativa atabalhoada e desesperada de tentar mudar as coisas sem o mínimo de lógica (na minha óptica de comum e banal adepto). Foi muito mau e se quem viu na TV pode não ter a noção do que foi o comportamento, eu, que vi no estádio, fiquei aterrorizado. Desviei o olhar muitas, muitas, mas mesmo muitas vezes na direcção dele, na tentativa de procurar uma resposta, conforto para aquilo que estava a acontecer e o que vi? Nada. Um vazio tenebroso. Vi medo e vi desnorte. Lamento dizer, mas o estado de graça dele esfumou-se para mim. Não peço a sua cabeça, é o treinador do meu clube e o meu treinador enquanto cá estiver mas, assim não! Assim definitivamente não! Tenho-te na mira meu amigo, ou arrepias caminho e tens a ombreidade de reconhecer falhas e defeitos ou vai. Vai porque isto aqui é para campeões, só isso. A porta dos fundos começa a abrir e se calhar, não tão devagarinho assim.
    Parabéns pela crónica que além de magnificamente bem escrita é mais pertinente que nunca.
    Obs: talvez os primeiros receios sobre isto estavam certos, eu é que talvez tenha percebido demasiado tarde. Custou muito, porque eu não merecia isto. Porque nós, Portistas não merecemos isto.
    Parabéns :)

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  2. As modalidades no FCP. No basquetebol e no hóquei não tem hipóteses de disputar o título com o clube da treta.
    Quanto ao futebol, ZERO. O Sr Lopetegui é pior que o Scolari. Mas tenhamos calma, no próxima época ainda teremos o Basco. E uma vez mais, iremos delirar com a fantástica sensação, de perdermos tudo.
    O que tem ganho o MEU, o TEU, o NOSSO FCPORTO com os treinadores espanhóis, alguém me responda?

    Luís (O do qualquer treinador é melhor que este)

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  3. Dizem que o Stessel não era grande coisa. Não sei.

    Naquela altura ainda tentava perceber o que faziam aqueles homens a correr atrás da bola. Apenas sabia que aquela camisola azul e branca às riscas era para mim a mais bela do mundo.

    De lá para cá, muitos treinadores orientaram o nosso magnífico clube.

    Uns vencedores, como Ivic, com um futebol simplesmente horrível, mas um pragmatismo vencedor à prova de bala, como o sensaborão Carlos Alberto Silva, ou como o autoritário Adriansen, pequeno demais para trucidar águias.

    Outros derrotados, como Quinito, Fernandez ou Couceiro, deixaram-nos mais pena pela sua incapacidade do que ódio pelas suas derrotas. Já de Fernando Santos, é difícil catalogá-lo como um vencedor ou derrotado.

    De todos, apenas um nome me surge como ódio de estimação:
    Otávio Machado (e menção desonrosa para Paulo Fonseca)

    Comparar Lopetegui a Otávio, é a mesma coisa que comparar uma bicicleta com um carro. A um, goste-se ou não, tem um processo de jogo personalizado. Do outro, qualquer semelhança das suas equipas com futebol, será pura coincidência.

    Mas inacreditavelmente, se neste momento uma sondagem houvesse entre portistas, sobre qual o pior treinador do Porto de todos os tempos, não teria dúvidas de que Lopetegui venceria finalmente o seu primeiro título.

    Estou longe de achar que Lopetegui é o melhor treinador do mundo. Mas é suficientemente bom para nos fazer campeões nacionais e ganhar títulos cá dentro. E enquanto me fizer acreditar, lutarei até ao fim na sua defesa e na do meu emblema.

    Em Junho, aí sim, espero mudanças. Vencendo ou não.

    Assim deveriam pensar todos os portistas, e não andarem a pedir estupidamente cabeças, o que só nos levaria ao abismo.

    Só por 1 vez, UMA MÍSERA VEZ, a mudança de treinador a meio da época nos foi benéfica no imediato. E muito temos de agradecer a Sousa Cintra o facto de despedir o fantástico Bobby Robson... numa situação similar à nossa actual.

    PS. Mais uma vez, um texto fantástico Miss BlueBay


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  4. Puxa cara Miss BlueBay
    Afinal é tão fácil ser treinador... Desculpe a ironia. Bjinho

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  5. O ULTIMO CAMPEONATO FOI ENTREGUE DE MÃO BEIJADA, POR INCAPACIDADE DO TREINADOR, O DESCALABRO NA ALEMANHA, IDEM, IDEM, ASPAS, ASPAS, E ESTE ANO VAI PELO MESMO CAMINHO. NO MELHOR CLUBE DO MUNDO, NÃO SE PODE TER VÁRIOS JOGOS MAUS POR ÉPOCA, UM SERÁ DEMAIS E A ACONTECER COMO TEM SIDO HÁBITO NO NOSSO CLUBE QUE SEJA DE CINCO EM CINCO OU DE DEZ EM DEZ.DESDE O ANO PASSADO QUE DIGO QUE NÃO GANHAMOS POR MÉRITO, MAS FRUTO DO ACASO,(CATEGORIA INDIVIDUAL) PORQUE NÃO SABEMOS CRIAR JOGADAS QUE REDUNDEM EM OPORTUNIDADES DE GOLO.
    ERAMOS PORTO,
    AGORA SOMOS O QUE OS MERDAS DE CLUBES DE LISBOA FORAM DURANTE MUITOS ANOS.

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  6. André Villas-Boas precisa de regressar ao Porto. A mulher está grávida. Até Janeiro com a derrota na Madeira e em Londres âncoras ficará resolvida. Desconfio que vamos ter prenda no sapatinho. Bom natal everyone!

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  7. André Villas-Boas precisa de regressar ao Porto. A mulher está grávida. Até Janeiro com a derrota na Madeira e em Londres âncoras ficará resolvida. Desconfio que vamos ter prenda no sapatinho. Bom natal everyone!

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  8. Isto TUDO depois de ganhar muitas e muitas vezes. Tantas que fazem corar alguns treinadores de carreira que nunca conseguiram atingir os números de Lopetegui. Alguns mesmo ganhando campeonatos, perderam mais vezes que Lopetegui no ano passado. E outros que o atingiram perdendo mais vezes que Lopetegui até então. Não. Não é o melhor treinador de todos os tempos. Mas até o poderá atingir. Basta fazer o rácio de anos á frente de uma equipa senior e desmultiplicar por jogos ganhos. Vamos Lopes Vamos equipa. Vamos minha gente. Biba o FCPorto.

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