24 agosto, 2013

No meio... as dores de cabeça

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O Verão tem nitidamente duas velocidades. As férias são rápidas como uma bala, os dias de praia fogem-nos como a areia por entre os dedos, ficam as saudades dos mergulhos de mar, das jantaradas com os amigos e daí a nada estamos outra vez na rotina de sempre, a trabalhar, a mal-dizer a chuva, o frio e os afazeres do quotidiano.

Já o mercado de transferências faz lembrar a viagem do elefante, lenta, pesada, interminável. Até ao dia 2 de Setembro muita coisa pode acontecer, apesar do FC Porto ter já o assunto semi-resolvido com as vendas prematuras de João Moutinho e de James Rodriguez. Apesar de estar sujeito a uma investida milionária de última hora por Jackson Martínez, o Presidente dá-se ao luxo de rejeitar propostas por um jogador no último ano de contrato (Fernando) e ainda quase poder decidir, do alto da sua sabedoria, que central vender (Otamendi, Mangala ou Maicon). Certo é que o trabalho de casa foi bem feito, a planificação da pré-época e do plantel decorreu sem sobressaltos e, caso não haja um accionamento das cláusulas que obrigue à venda de uma das pérolas, parece que será com estes que iremos à guerra.

A baliza e o quarteto defensivo deverão permanecer inalteráveis face ao ano passado. A “novidade” Fucile poderá obrigar Danilo a redobradas atenções, pois o uruguaio parece ter voltado com outra atitude competitiva. Veremos como reage ao banco de suplentes.

No meio-campo surgem as boas dores de cabeça. A primeira delas é a adaptação da equipa (por confirmar) à inversão do triângulo. Depois: Fernando, Défour, Josué, Herrera, Carlos Eduardo, Tiago Rodrigues, Lucho e Quintero. Oito cabeças, mas apenas três (quatro?) lugares disponíveis. Carlos Eduardo e Tiago Rodrigues, ao que parece, partem na posição mais atrasada e o português, atendendo à sua idade e inexperiência, poderá ganhar calo competitivo na equipa B, evoluindo como jogador e sentindo o peso da camisola.

Muitos jornalistas e portistas dos mais variados quadrantes já começaram a praticar o conhecido desporto que é treinar a partir da bancada. Regressa a velha conversa de que Lucho está velho para estas andanças e surgem vozes a exigir Quintero a titular. Miguel Sousa Tavares diz mesmo que está na cara que o meio-campo do FC Porto terá obrigatoriamente que ser constituído por Josué, Lucho e Quintero. De portista para portista: discordo. Totalmente.

Vamos aos porquês.

Antes de mais, nenhuma equipa europeia que almeje ganhar títulos joga sem um trinco puro. Basta ver o Barcelona (Busquets), o Real Madrid (Xabi Alonso), o Manchester (Carrick), o Bayern (com Schweinsteiger nessa zona no sistema de Guardiola), etc. Ora, olhando para o nosso plantel, o único trinco de que dispomos, o chamado “meia” no Brasil, é Fernando, aquele que está mais familiarizado com a posição 6, seja ela preenchida no papel por um elemento (como com Mourinho, Jesualdo, Villas Boas e Vítor Pereira) ou por dois (Paulo Fonseca). Por algum motivo, o Presidente Pinto da Costa – o homem que conheço que mais percebe de futebol – se mostra tão relutante em vender o brasileiro.

A não ser que Miguel Sousa Tavares defenda um sistema para o campeonato português e outro sistema para a Champions, depois de Costinha, Assunção e Fernando, seria inimaginável jogarmos na Europa sem um peso-pesado todo-o-terreno que feche o miolo à frente dos centrais. Josué e Lucho são jogadores combativos, de sacrifício, abnegados, mas não faz parte da sua natureza disputar bolas no jogo aéreo, sujar os calções e andar a fazer carrinhos. O trabalho sujo para uns, a arte para outros.

Lucho, esse, é inquestionável, como se viu no jogo da Supertaça em que foi o melhor em campo a par do surpreendente Licá. Apesar de estar a jogar numa posição que não o favorece, obrigando-o a jogar de costas e a disputar muitas bolas no espaço aéreo, mantém-se como uma referência de experiência e de controlo dos tempos e ritmos do jogo, pressionando em todo o campo, recuperando inúmeras bolas, fazendo golos e assistências. Além do peso institucional, Lucho não é um veterano nem faz figura de corpo presente. Por isso, haja respeito pelo Capitão.

Quem jogará, então, ao lado dos dois jogadores mais experientes?

Quintero é sem dúvida um fenómeno. As suas acelerações são indescritíveis, a sua tracção ao relvado augura um futuro brilhante, ao nível dos melhores do mundo. Dezanove anos e tanta qualidade parecem sonho ou ficção. Mas não nos esqueçamos da idade e do que isso pode acarretar. Uma utilização prematura pode levar a uma caça ao miúdo nos relvados nacionais, recordando o tristemente célebre Katsouranis vs Anderson, alterando para sempre o rumo de uma carreira que prometia ser estratosférica. Além disso, o FC Porto só teria a ganhar com resguardar o jogador, obrigando-o a percorrer os patamares normais de evolução, protegendo-o de pressões externas, de empresários, de propostas milionárias. Hoje em dia, o síndrome Bruma também sucede dentro de portas (caso Atsu). Importa, pois então, não colocar já no colombiano o peso de resolver os jogos.

Défour e Herrera protagonizarão uma luta renhida por um lugar ao sol. O belga, muito trabalhador e mais experiente, parte na dianteira. Mas confesso que parece sempre faltar-lhe algo, tal é a sofreguidão com que quer mostrar serviço. O mexicano, na equipa B, já mostrou pormenores que o podem tornar num box-to-box de referência, capaz de efectuar o transporte vertical com bola, usando a força, velocidade e poder de choque.~

Já o portista Josué parece ser a coqueluche e o joker de Paulo Fonseca. Ora no meio, ora à esquerda travestido de extremo, parece ser o homem de confiança e aposta do treinador. O penalty batido no Bonfim é disso exemplo. Admitindo uma inicial desconfiança da minha parte, Josué está a convencer-me. Para além do óbvio pé esquerdo e da facilidade de passe, começo a descortinar ali um atleta que pode fazer carreira de dragão ao peito por largos anos. Conhecedor do futebol português, combativo, com sangue na guelra, faz lembrar no estilo os carregadores de piano símbolos do FC Porto dos anos 90, até pelo seu passado de sucessivos empréstimos. Estará ali, mais tarde ou mais cedo, tal como Licá, um jogador de Selecção Nacional.

No ataque, Jackson Martínez é consensual, secundado por um avançado de categoria (Ghilas), como há muito não se vi no FC Porto. Nas alas, Licá e Varela partem em vantagem, já que Kelvin e Iturbe (estranha ausência das convocatórias, atendendo à forte aposta na pré-época) parecem ainda não estar adaptados às exigências do campeão nacional.

Muitas interrogações na mente dos adeptos e, especialmente, na de Paulo Fonseca, que não se pode queixar de falta de soluções para a temporada que agora começa.

Até ao fim do mercado, as saídas serão uma realidade. Iturbe e Varela estão na calha. Veremos o que sucede com Fernando e algum dos centrais. Mas não me admiraria – e agora surge a minha aposta – que o sistema de jogo do FC Porto evoluísse para um 4 4 2, com Jackson e Licá na frente de ataque, servidos por Fernando, Lucho, Herrera e Josué. Quintero à espreita, claro. Fonseca terá a resposta.

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