17 julho, 2012

Capítulo 6: 1951 a 1960 – Contestação a Lisboa; a “dobradinha” (Parte XII)

http://bibo-porto-carago.blogspot.com/

FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto

Capítulo 6: 1951 a 1960 – Contestação a Lisboa; a “dobradinha” (Parte XII)

Época 1953-1954 (continuação)

23 Mai.1954 – Para os oitavos-de-final da Taça de Portugal, o FC Porto foi ao Campo D. Manuel de Melo, no Barreiro, empatar a 1 golo com o Barreirense. Boas perspectivas para o jogo da 2.ª mão, no Porto.

30 Mai. – O FC Porto resolveu a eliminatória nas Antas. José Maria marcou por duas vezes e Faia, do Barreirense, só o fez por uma vez. 2-1 para o FC Porto e a passagem aos quartos-de-final em que encontraria o Sporting.


6 e 13 Jun. – Quartos-de-final: a Taça de Portugal de 1953-54 era, uma vez mais, a esperança das hostes portistas para pôr fim a um longo jejum de títulos que já entorpecia.
Nas quartos-de-final, depois de um bom jogo e de empate no Lumiar, a uma bola, os azuis-e-brancos fizeram festa e viam abrir-se-lhes as portas das “meias”. Mas, nas Antas, perderiam por 2-4. Ângelo Carvalho, após um confronto com Galileu, foi expulso aos 65 minutos e chorou convulsivamente depois do jogo. Virgílio, que sofrera a primeira derrota desde que passara a “capitão” de equipa, não se conformava. Na fase final do desafio, quando tudo estava já decidido a favor do Sporting, desfaleceu. “Estava cheio de nervos, deu-me uma coisa na vista, parece que caí sem sentidos.”



• Andebol de 11 (1953-1954) – Os adeptos portistas festejaram o 6.º título consecutivo do Andebol de 11. Era a metade de… qualquer coisa imbatível, até hoje, no desporto português… Lá mais para a frente recordaremos esse feito.

Monteiro da Costa – António Henrique Monteiro da Costa (n. São Paio de Oleiros, Santa Maria da Feira, 20 Ago.1928 – m. Arcozelo, V. N. Gaia, 2 Out.1984), representou o Sp. Espinho (1946-48) e a Oliveirense (1948-49) antes de ingressar no FC Porto. Um dos chamados "pau para toda a obra", jogador polivalente, ocupou todas as posições excepto a de guarda-redes.
• Para se aquilatar do seu valor e polivalência, veja-se o que se escreveu numa edição do “Cavaleiro Andante” dedicada a este extraordinário jogador do FC Porto: “Monteiro da Costa é a energia personificada. De temperamento combativo, sempre em acção, lutador destemido, o excelente “crack” do FC Porto derrama vigor em cada lance em que intervém. E de tal maneira se afirma a sua garra que, algumas vezes, dizem que ele chega a ser violento. Tem conhecido todos os lugares dentro da equipa do FC Porto. Foi avançado-centro, interior, extremo, defesa lateral e central, e hoje, graças à insistência do seu treinador, é médio. E foi neste último lugar que mais se puderam vincar as qualidades que o distinguem”.
• De facto, dando crédito ao que acima se leu, alinhou frequentemente como defesa-central, evidenciando segurança e qualidade. Outras posições em que tinha alto rendimento eram as de médio-ofensivo ou avançado. Concretizava inúmeros tentos nas balizas adversárias e, nos treze anos em que serviu o FC Porto (1949 a 1962), só no campeonato fez 72 golos em 270 jogos. Em Janeiro de 1951 foi o herói da extraordinária vitória por 2-0, sobre o Benfica, no Campo Grande em Lisboa, pois marcou ambos os golos.
• Actuou nas equipas excepcionais que, nos anos 50, ganharam 2 Campeonatos e 2 Taças de Portugal. Colaborou com vários treinadores entre os quais os campeões Yustrich e Guttmann, jogou com excelentes futebolistas como Barrigana, Virgílio, Miguel Arcanjo, Osvaldo Cambalacho, Pedroto, Carlos Duarte, Jaburu, Carlos Vieira e Hernâni.
• O seu nome figura na lista dos "capitães" mais carismáticos da história do FC Porto onde jogou ao longo de 12 épocas! Percorreu três décadas a jogar de camisola azul-e-branca vestida, pois ingressou no Clube em 1949 e acabou a carreira de jogador em 1962!
• Jogador voluntarioso foi de uma entrega e dedicação inexcedíveis, nada regateando ao seu amado clube. Após a carreira de futebolista, nele perdurou a disponibilidade para ajudar o FC Porto. Em momentos difíceis da equipa aceitou comandá-la, como treinador (em parte das épocas 1974-75 e 1975-76).
• Internacional 6 vezes (duas na Selecção B), tal como no seu clube usou de extraordinária abnegação com a "camisola das quinas" vestida. Nos “AA” estreou-se em jogo disputado no Estádio das Antas, ante a Áustria (1-1), em 23 Nov.1952, com os também portistas Barrigana e Ângelo Carvalho a fazerem parte da equipa. A última partida foi contra a Irlanda do Norte (1-1), em 16 Jan.1957, no Estádio José Alvalade (Lisboa). Nesse jogo alinharam pela Selecção Nacional cinco jogadores do FC Porto: além de Monteiro da Costa, também Virgílio, Pedroto, Hernâni e Fernando Perdigão.
• Depois de terminada a carreira de futebolista, Monteiro da Costa foi treinador. Eis o que, atestando o carácter e integridade moral de um grande Homem e desportista, diz dele um ex-pupilo: “Monteiro da Costa para além de jogador íntegro do FC Porto, foi um HOMEM que passou pelo Salgueiros e que para além de treinar os seniores, treinava com muito orgulho os juniores. Os treinos dos juniores começavam às 7 horas (da manhã) e ele esperava por nós, equipado, a correr à volta do velho campo Eng.º Vidal Pinheiro. Como Homem transmitiu valores que ainda hoje guardo e revelo a honra de lhe ter chamado “Mister”. Obrigado Sr. Monteiro da Costa”.
• Monteiro da Costa, o mais versátil futebolista de sempre do FC Porto, um grande exemplo de "amor à camisola", um coração azul-e-branco, um Homem de integridade perfilhada, uma grande glória do Clube!
Carreira no FC Porto (jogador)
1949-50 a 1961-62
Palmarés
2 Campeonatos Nacionais (1955-56, 1958-59)
2 Taças de Portugal (1955-56, 1957-58)

[Nota: uma primeira versão desta biografia, mais sucinta, foi cedida por mim e publicada em 4 Mai.2009 no blogue “Estrelas do FC Porto” do amigo Paulo Moreira. Sinto-me honrado por, posteriormente, se ter repercutido em toda a net, mas lamento que a sua autoria seja omitida em alguns blogues e sítios que dela se apropriaram – Fernando Moreira]

Porcel – António José Porcel (n. Argentina, 13 Jun.1925) era um médio de elevada técnica (um Lucho González ainda mais tecnicista - diz quem o viu evoluir no campo) e jogava também a avançado. Chegou do país das pampas no início da época 1953-54 e com ele ingressou no FC Porto o também argentino José Valle, este transferido do Lusitano de Évora.
• No início da época 1955-56 Porcel, Barrigana e Ângelo Carvalho foram dispensados por Yustrich, o novo treinador, por alegadamente contestarem os seus métodos de trabalho. Uma decisão muito contestada pela massa associativa e polémica pois eram encarados como dos jogadores mais importantes do plantel. Os três foram para o Salgueiros e Porcel aí permaneceu duas épocas antes de regressar à Argentina.
• Porcel protagonizou um episódio pitoresco durante um jogo com o Atlético, em Lisboa, em Março de 1954, a contar para o Campeonato Nacional. Lesionou-se à meia hora de jogo e nunca mais deixou de sangrar do nariz. Sua mulher estava prestes a ser mãe e tinha por costume ouvir os relatos dos jogos do marido na íntegra. Quando se deu a lesão, um dirigente correu a pedir aos homens da rádio que nada dissessem sobre o incidente para evitar complicações, já que a senhora era hiper-sensível. Todos concordaram, naturalmente, mas para que o expediente funcionasse era preciso manter Porcel em campo, mesmo que em ofício de corpo presente, mesmo que em sacrifício da própria equipa. Assim se fez. E no dia seguinte nasceu o bebé...
• António Porcel alinhou em 36 jogos oficiais nas duas épocas em que envergou a camisola azul-e-branca e era muito estimado quer pelos colegas, quer pelos adeptos portistas. Esteve em Portugal nos anos 80, deu uma entrevista e desabafou: aquando da saída do FC Porto “até chorei, pois no primeiro treino, no Salgueiros, verifiquei que no balneário nem estrado havia para os pés…”
Carreira no FC Porto
1953-54 a 1954-55
[Fontes: “Paixão pelo Porto”, zerozero.pt, “História de 50 anos do desporto português”, “Almanaque do FC Porto”, outras publicações]

Albasini - Rodolfo da Silva Albasini (n. Moçambique, 31 Ago.1930 – m. Águas Santas, Maia, 16 Mai.2011), começou a jogar no 1.º de Maio de Lourenço Marques, actual Maputo, capital de Moçambique.
Foi dos primeiros futebolistas de Moçambique a vir para Portugal e para FC Porto em 1952. Tinha-o antecedido Matateu (Belenenses). Nessa mesma altura também ingressaram no clube da Invicta os angolanos Carlos Duarte e Fernando Perdigão.

Albasini numa entrevista à Rádio. Ao seu lado, Perdigão
• Albasini era um médio de bom recorte técnico e um valor que prometia destacar-se no panorama futebolístico nacional. Teve a oportunidade de alinhar em grandes equipas do FC Porto e jogar ao lado de nomes como Barrigana, Ângelo Carvalho, Virgílio, Miguel Arcanjo, Osvaldo Cambalacho, Porcel, José Valle, Monteiro da Costa, Pedroto, Hernâni, António Teixeira, José Maria, para além dos referidos Carlos Duarte e Perdigão. Foi chamado para treinos da Selecção Nacional, contudo nunca envergou a “camisola das quinas”.

Albasini com colegas futebolistas
A partir da direita: Miguel Arcanjo, Albasini, Osvaldo Cambalacho e Hassani-Ali
• Em entrevista a um jornal nortenho, o moçambicano dizia: “Adaptei-me definitivamente ao ambiente tripeiro e quero ficar aqui, no Porto, tanto tempo quanto eu possa e mo consintam… quer dizer, para sempre!” Infelizmente para ele e para o Clube, em 1954 uma grave lesão no joelho, insanável, impossibilitou-o de prosseguir a sua carreira de atleta de alta competição. Cedo teve de se retirar; fez pelo FC Porto 13 jogos oficiais na época 1952-53, 8 na temporada seguinte e apenas 1 em 1954-55. Regressou então a Lourenço Marques onde obteve um emprego nos caminhos-de-ferro. Ainda fez uma “perninha” no Ferroviário local e foi Campeão. Mais uma época em Portugal e teria sido Campeão Nacional pelo FC Porto! Bem o merecia.
• Albasini voltou mais tarde à cidade do Porto que o encantava. Durante os últimos anos da sua vida padeceu de uma doença degenerativa, vindo a falecer no mês de Maio de 2011 em Águas Santas, Maia.
Carreira no FC Porto
1952-53 a 1954-55
[Fontes: “The Delagoa Bay Company”, “Lôngara – Actividade Literária”, zerozero.pt, “Almanaque do FC Porto”, outras publicações]

José Valle – José Valle Román (n. Buenos Aires, Argentina, 16 Set.1920), jogava como defesa e iniciou a carreira em 1941 no Atlanta, de Buenos Aires, onde permaneceu até 1943. Depois jogou durante uma época no Independente, de Avellaneda. De 1945 a 1947 esteve noutro clube argentino, o Temperley.
• Em 1947 mudou-se para a Europa e para a AS Roma. A seguir transferiu-se para Espanha tendo jogado na UE Lleida na época 1950-51. Chegou a Portugal para representar o Lusitano de Évora nas temporadas 1951-52 e 1952-53. No Campeonato Nacional deu nas vistas e o FC Porto contratou-o no início da época de 1953-54.
• No FC Porto jogou como defesa e médio-defensivo, actuando preferencialmente pela faixa central do campo.
Chegou às Antas com o também argentino Porcel e com o italiano Del Pinto. Ao contrário destes dois foi Campeão Nacional no FC Porto, de Yustrich, na época 1955-56 no fim da qual deu por terminada a sua carreira de futebolista. Actuou em 39 jogos oficiais: 20 em 1953-54 (16 no Campeonato e 4 na Taça de Portugal), 18 em 1954-55 (17+1) e apenas um na época 1955-56, no Campeonato, sendo por isso Campeão pelo FC Porto.
• José Valle enveredou pela carreira de treinador e orientou o Leixões (1960-61), Atlético (1961-62), Vitória de Guimarães (1962 a 1964), Braga (1965-66), Varzim e, novamente, Braga (1966-67).
• Mas antes, no FC Porto, havia sido adjunto do regressado Dorival Yustrich. E, nessa época de 1957-58, acabou por substituir interinamente o “Homão” que entretanto rescindira contrato. Valle não aceitou as responsabilidades de orientador técnico apenas com os direitos e os ordenados de treinador-adjunto e, assim, veio Otto Bumbel que conquistaria a segunda Taça de Portugal para as cores azuis-e-brancas.
Carreira no FC Porto
1953-54 a 1955-56
Palmarés
1 Campeonato Nacional (1955-56)
1 Taça de Portugal (1955-56)
[Fontes: “Glórias do Passado”, Wikipédia (espanhol), “Almanaque do FC Porto”, outras publicações]

Del Pinto – Sérgio Del Pinto Masetti (n. Roma, Itália, 14 Nov.1923), jogador italiano – médio centro – e treinador do “calcio” (Itália). Formado nas escolas da Lázio, era oriundo de uma família rica e talvez por isso lhe faltasse a solidez competitiva de alguns dos seus companheiros da “esquadra branco-celeste”. Dotado de admirável manancial de recursos técnicos, não tinha todavia a personalidade própria de um jogador que quer ir em frente e vencer custe o que custar.
• Muito polido mas desajustado ao mundo do futebol, foi enviado para o Alba Roma, da Série C, para rodar (1941 a 1943). Com a 2.ª Grande Guerra no auge, as competições pararam em Itália. No recomeço (1945), parecia que chegara o momento de Del Pinto se impor na Lázio. Jogou grande parte do primeiro Campeonato Italiano do pós-guerra, fez valer as suas inegáveis qualidades e logo chamou a si a atenção da imprensa desportiva e dos treinadores italianos. Infelizmente nas temporadas seguintes a afirmação de jogadores como Alzani e Gualtieri, que estavam ainda mais fortes e determinados que ele, deixa-lhe reduzido espaço na equipa. Quando retomou o seu lugar, não tinha ritmo competitivo e sofria de gritante falta de auto-estima. Em dois anos faz apenas sete aparições em jogos oficiais e as perspectivas eram cada vez mais nebulosas. No final da época 1947-48 decide partir para Espanha e representar o Lleida, da Catalunha (1949 a 1952).
• Foi contratado pelo FC Porto para a época 1953-54 a única em que vestiu a camisola azul-e-branca para jogar em dois encontros oficiais e no Campeonato: com o Lusitano de Évora (0-2) na 3.ª jornada e, na jornada seguinte, com o SC Braga (1-0). Permaneceu nas reservas até 1955-56.
• Del Pinto, depois de abandonar a carreira de futebolista, treinou equipas do futebol italiano. Chegou a ser seleccionador da Somália.
Carreira no FC Porto
1953-54 a 1955-56
Palmarés
Na época 1955-56 não foi Campeão nem vencedor da Taça de Portugal porque não participou em nenhum jogo.
[Fontes: Wikipédia (espanhol e italiano), “Worldfootball”, “Almanaque do FC Porto”, outras publicações]
  • No próximo post.: Capítulo 6, 1951 a 1960 – Contestação a Lisboa; a “dobradinha” (Parte XIII) – Época 1954-55; o início da época e o plantel; Campeonato Nacional; homenagem a Pepe e ao Clube da "cruz de Cristo", gesto nobre que honra os portistas; a desforra da inauguração… Benfica 1 – FC Porto 3; futebol com salários inflacionados.

7 comentários:

  1. Mais um post AZUL FORTE do meu amigo FMoreira. Destaco nesta época de 53/54 o 6.º título consecutivo do Andebol de 11.

    No futebol a época do fim do jejum está mt perto;)

    abraço

    ResponderEliminar
  2. Continua e bem na mesma linha, sempre mais completo e enriquecido. Que dizer mais, além de tudo o que tenho referido?!
    Abraço.

    ResponderEliminar
  3. Grande POST, MUITO BOM, continua assim :)

    Um abraço
    André Bastos

    ResponderEliminar
  4. Obrigado pelas palavras.

    Monteiro da Costa é um dos que nos faz estremecer. Um grande exemplo que o próprio Clube devia indicar aos que vestem a sagrada camisola azul-e-branca.

    Del Pinto: quase que lembrava o Del Neri…

    BIbó Porto!!!!

    ResponderEliminar
  5. Dragão Azul Forte, mais um excelente trabalho, até deu para ficar a saber que o grande Monteiro da Costa é da mesma terra do nosso amigo Blue.....;)))



    BIBÓ PORTO

    ResponderEliminar
  6. Mafaldinha, não sabia; julgava que o Blue era de Espinho.
    Obrigado.
    Beijinho.
    BIBÓ PORTO!

    ResponderEliminar
  7. Monteiro da Costa deveria, de facto, fazer parte dos manuais do FC Porto na formação.
    Beijo.
    BIBÓ PORTO!!!!!!

    ResponderEliminar