27 janeiro, 2012

Segunda volta

http://bibo-porto-carago.blogspot.com/


Já me dói o pescoço. É tão grande o hábito de olhar unicamente em frente, porque os outros vêm tão lá em baixo que nem vale a pena olhar para eles, que estas três semanitas a olhar para cima já me estão a dar cabo dos músculos cervicais. E da cabeça. Não gosto disto. Gosto de agarrar no primeiro lugar o mais cedo possível e ir cavando o fosso. Vitória atrás de vitória, enchendo a nossa equipa de confiança e matando lentamente, semana a semana, a esperança dos nossos perseguidores. Gosto daqueles campeonatos em que há sempre quem venha dizer que "assim não tem piada". Se algum dia me ouvirem dizer isso, estarei certamente a brincar. É precisamente assim que tem mais piada.

Mas por mais saborosas que sejam essas épocas sem espinhas, o que verdadeiramente interessa não é estar em primeiro lugar em Janeiro, ou em Fevereiro,ou em Março. O que interessa é estar em primeiro lugar quando soa o apito final do último jogo da época. Estamos de acordo. E é esse o objectivo pelo qual teremos que lutar. Foi assim desde o início da época, mas, quando não se está em primeiro lugar, a margem de erro diminui a cada jornada que passa. Entrámos mal na época, com resultados desagradáveis e exibições piores, e apesar do nosso adversário directo não estar muito melhor do que nós, era previsível que o nosso momento complicado viesse a redundar, mais cedo ou mais tarde, na cedência do primeiro lugar. Aconteceu em Alvalade. Até me custa lembrar que não ganhámos àquela pobre equipinha, mas a realidade é que não ganhámos nem fizemos por ganhar, um tipo de atitude que tem que ser varrida do nosso clube se quisermos continuar a acreditar no campeonato.

Técnica e tacticamente ainda há muito por afinar, é certo, para além de haver reforços que ainda não tiveram verdadeiras oportunidades e vários jogadores ainda longe da sua melhor forma. Mas a chave para a conquista deste campeonato é, a meu ver, sobretudo psicológica. Estamos quase em Fevereiro e o clube do regime lidera, o que deixa antever que seremos alvo de ataques cerrados. Para que consigamos usar esses ataques para alimentar a nossa força e a nossa vontade de vencer, como é nosso apanágio, teremos que estar unidos. O Porto é muito mais do que uma equipa de futebol, que joga bem ou mal e ganha ou perde em função disso. Se fosse assim, seria simples. Mas não é. O Porto é uma instituição altamente odiada e permanentemente atacada, e tem que saber lidar com isso fora do campo para que seja possível vencer no campo.

É sobretudo nisso que Vítor Pereira terá que demonstrar que sabe o que está a fazer. Muito já se falou sobre a sua suposta falta de pulso sobre os atletas, mas é preciso compreender o complicadíssimo contexto em que começou por desenvolver o seu trabalho. Sem querer parecer aqueles políticos que, quando chegam ao governo, passam o mandato inteiro a atirar para o executivo anterior as culpas de todos os problemas do país, considero que uma boa parte da explicação para a nossa fraca primeira volta reside nas circunstâncias em que aconteceu a saída do treinador da época passada. Tal como nós, é provável que os jogadores também tivessem grandes expectativas para esta época - expectativas essas que ficam goradas a partir do momento em que o comando da equipa mudou de mãos. Continuava a ser possível fazer uma época excelente? Claro. Mas seria bem mais complicado. Estava meio caminho andado, ou pelo menos uma boa parte dele, e voltou-se ao princípio. Os jogadores sentiram isso como nós, ou ainda mais. Não deve ter sido fácil estar na pele de Vítor Pereira, e não sei se muita gente teria feito melhor.

Mas começa a ver-se a luzinha ao fundo do túnel. Contra o Vitória não só houve melhor futebol, mas também melhor atitude. Até pelos festejos dos golos se nota. Que seja para durar, porque um jogo significa muito pouco. Quero ver mais disto em Barcelos, e nos jogos seguintes. Agora sim, o treinador começa a ter espaço para trabalhar tranquilamente - e trabalho não lhe falta. Para a Liga dos Campeões é tarde, para a Taça também. Se ganharmos a Taça da Liga não a mando para trás, mas as duas competições relevantes que nos restam são a Liga Europa e o Campeonato. Na primeira, e considerando o adversário que temos pela frente já na próxima eliminatória, vamos indo e vamos vendo. Mas o campeonato é para ganhar. E para ganhar não podemos ceder mais pontos, não podemos ficar à espera de tropeções alheios. Dependemos apenas de nós. É preciso atestar os níveis de motivação, mostrar aos jogadores o quanto isto é importante, o quanto está em jogo. Esta época é especial: no ano passado menorizámos décadas de jogo sujo a preto e branco, ultrapassando o clube do regime em número de títulos, e é essencial não permitir que voltem a empatar essas contas. E há quem diga que as vitórias de 2010/11 foram responsabilidade exclusiva do treinador - vamos dar-lhes razão ou provar que estão errados? Com a equipa praticamente igual à que ganhou tudo, não vamos ganhar nada? Está fora de questão! Neste clube ganha-se, ponto final parágrafo. Quem não está aqui para dar tudo pela vitória, não está aqui bem - nem estará bem nos campeonatos ultra-competitivos para onde todos sonham dar o salto. É preciso que os jogadores interiorizem isso.

E aí nós, adeptos, também temos um papel a desempenhar. Um dos grandes méritos do nosso treinador da época passada foi a forma como nos convocou para fazermos parte, para motivarmos a equipa, para a acarinharmos e protegermos dos ataques externos. É essa a nossa missão. E nesta segunda volta seremos fundamentais.

PS - É com muita pena que vejo sair Fucile. Gosto dele enquanto jogador (às vezes tinha uns flashes, mas fora isso...) e sempre gostei muito da atitude. Que seja feliz. Quanto ao eventual regresso d'El Comandante, confesso que não sou particularmente fã de regressos - Baía foi a excepção. Veremos.

6 comentários:

  1. Verdade, verdadinha, aceito o que dizes, Enid. De facto os protagonistas são, no palco, a equipa técnica e os jogadores e, na plateia, todos nós portistas. Mas sobre os da plateia um pequeno reparo: quando se discutiu o mérito da assobiadela à equipa e ao treinador, eu fui peremptório manifestando a minha repulsa pelos assobios. Não mudei de opinião aquando das recentes assobiadelas a Kléber. Julgo que há quem se tenha oposto ao assobio a Vítor Pereira mas não o faça no que toca ao jogador brasileiro. São dois pesos e duas medidas?! Por maioria de razões acho pior que se invective Kléber; é um futebolista jovem, com grandes capacidades e com muito para aprender, como tal o apoio no estádio é imprescindível para poder ultrapassar estágios de aperfeiçoamento. O contrário “matará” o jogador.

    Como tal, nós, espectadores, somos protagonistas e muito importantes.
    Abraço.
    BibÓ PORTO!!

    ResponderEliminar
  2. Jogo de Barcelos e o fim do mercado de inverno, vão dar indícios do que pode ser a segunda-volta do campeonato. Aguardemos, portanto.

    BJS

    ResponderEliminar
  3. "Dependemos apenas de nós. É preciso atestar os níveis de motivação, mostrar aos jogadores o quanto isto é importante, o quanto está em jogo"

    Vamos lá ver se VP ajuda também nesta matéria. Pode ser que sim, vamos acreditar.

    ResponderEliminar
  4. Amanha em Santa Maria da feira vai ser um cheiro intenso a merda se o vento tiver forte ainda chega o cheiro ao Porto.

    Vamos fazer um desinfestação aos Vermelhos.

    Do Porto a Feira é só gente Tripeira!

    Civittas

    ResponderEliminar
  5. O fecho do mercado aproxima-se e nada de novo em relação ao plantel, se exceptuarmos a saída de Fucile.
    Vender Guarin por 10 ou 11 M€ e adquirir Lucho por empréstimo ou a título definitivo não é um bom negócio, é um EXCELENTE negócio!
    Era necessário ir buscar um ponta-de-lança com qualidade. No entanto, acho que já se percebeu que a capacidade financeira não é a melhor neste momento, e para ir buscar um ponta-de-lança por meia dúzia de trocos só para calar os adeptos também não me parece boa política. A ver vamos, eu queria muito um novo avançado, mas começo a perder a esperança…
    Quanto á questão do título, como sempre disse, estamos longe de ter o campeonato perdido. Mas também já se percebeu que o actual líder não deverá perder muitos mais pontos até final do campeonato. Uma escorregadela frente a uma equipa de meio da tabela pode ser a morte do artista. O jogo de Barcelos é importante sob vários pontos de vista; continuidade da boa exibição frente ao Vitória, e clara resposta de que não vamos desarmar da luta pelo 1º lugar.
    Enquanto a diferença for inferior a 3 pontos, é perfeitamente possível vencer este campeonato. Acima disto, já não dependeremos de nós, e o tal desígnio nacional que parece de 10 em 10 anos lá irá surgir: a vitória do clube dos 6 milhões… E aí a campanha irá ser forte, com uma espécie de comunhão de esforços de todos os agentes desportivos, comunicação social, árbitros, etc, etc…

    ResponderEliminar
  6. Não sei se o expressei aqui ou noutra bluegosfera que Fucile é um dos meus heróis. Não sendo portista desde pequenino, ambientou-se muito bem ao clube abosrvendo a nossa mistica e, apesar de algumas vezes parecer completamente aluado (o Zenit foi o... zénite desse aluamento) foi um dos melhores laterais que o FC PORTO já teve. E depois é dele a célebre máxima: Se vejo jogos do Benfica? Não! Aproveito esse tempo para telfonar aos meus pais!!!!
    Ah, grande Fucile, que os deuses te acompanhem...

    ResponderEliminar