02 janeiro, 2012

Abertura

http://bibo-porto-carago.blogspot.com/


A propósito do treino aberto desta tarde, vou recuperar em grande parte um post que escrevi no meu antigo blog há quase 5 anos, quando um conjunto de blogs Portistas lançou uma iniciativa que apelava a que o último treino da época, com o Porto já campeão, fosse realizado à porta aberta.

Quando era criança, qualquer feriado que calhasse num dia de semana já tinha plano delineado: telefonava-se na véspera para o FC Porto para saber a que horas era o treino do dia seguinte e no próprio dia era sair de casa bem cedinho; eu, o meu irmão e os amigos que coubessem no carro. A minha mãe, com paciência de santa, não só conduzia como esperava no carro durante toda a manhã. E que longa manhã...

Normalmente pouco passava das oito horas quando víamos chegar os jogadores. Iam chegando, estacionavam os carros e dirigiam-se para o balneário: primeiro autógrafo. Esperávamos depois que saíssem do balneário em direcção ao campo de treinos, e nesta altura era mais fotografias, para que os jogadores não perdessem tanto tempo. E depois ficávamos a ver o treino, excitadíssimos. Crianças e reformados a toda a volta do campo - uma assistência de fazer inveja a muitos jogos da I Liga - acompanhando religiosamente cada movimento, cada exercício, cada brincadeira dos jogadores. Fotos, fotos e mais fotos.

Acabado o treino, era altura para o segundo autógrafo e mais fotografias, como a que ilustra este post, enquanto os jogadores se dirigiam do campo para o balneário. E depois a longa espera. Normalmente mais de meia hora para que saísse o primeiro jogador. E quando começavam a sair, era um atrás do outro... Era preciso estar atento para não perder nenhum. Nessa altura conseguia-se o terceiro autógrafo de cada jogador e aproveitava-se para tirar ainda mais fotos, desta vez especando-nos, sorridentes, ao seu lado. Muitas meninas gostavam de pedir beijinhos - eu por acaso nunca quis. Mas eles acediam pacientemente: aos beijinhos, às fotografias, aos autógrafos, enquanto os reformados assistiam ao fundo, entre sorrisos. Lembro-me de, uma vez, um deles ter gritado: "Ó Timofte, tens que arranjar um carimbo!". O romeno, cercado de dezenas de crianças, riu-se do comentário e continuou a assinar.

Íamos contando os autógrafos à medida a que os jogadores iam saindo. "Já passou o André? E o Domingos?" O Aloísio era sempre o último. Aparecia lá para a uma da tarde. Já nem todas as crianças resistiam até esta altura - nem todas as mães eram tão pacientes como a minha. Quando o brasileiro concedia o último rabisco no caderno, entrávamos no carro com uma clara sensação de missão cumprida. Depois era gastar depressa o que restasse do rolo e correr a revelar as fotografias, que assim que estivessem prontas iam ser exibidas na escola.

Embalada por recordações deste género, custa-me aceitar a situação no actual CTFD. Para além de ser longe de tudo, longe dos adeptos e do "coração" do FC Porto (embora quanto a isso nada se possa fazer), não prevê, pela sua estrutura, qualquer contacto entre os jogadores e os adeptos. O máximo que se consegue é impedir a saída dos carros, requisitando depois o desejado autógrafo através da janela do condutor - isso até que os seguranças afastem os adeptos do carro forçando o jogador a seguir viagem, pois começa a formar-se fila. Adicione-se isso à actual moda dos treinos à porta fechada e temos a receita para uma massa adepta cujo acesso aos seus ídolos é totalmente vedado.

Já não é a primeira vez que abordo aqui este assunto. Compreendo os treinos à porta fechada, compreendo a necessidade de preservar um pouco os próprios jogadores, e não defendo um regresso aos hábitos de há 20 anos, mas sei bem que é de pequenas grandes coisas como estas que se constrói o amor ao clube. É por isso que um mais fácil acesso dos adeptos aos jogadores é fundamental não apenas para os adeptos, mas também para o clube. Iniciativas como a de hoje, bem como as sessões de autógrafos que vão acontecendo de vez em quando na Loja Azul, são positivas, mas ainda demasiado raras. Quero ver mais dessa abertura em 2012.

Lembro-me bem do que sentia em dias como o que descrevi e entristece-me que os adeptos infantis do FC Porto não tenham actualmente a mesma oportunidade. Entristece-me que eu não tenha actualmente a mesma oportunidade! Afinal, está-se sempre em idade de pedir um autógrafo a um ídolo, não é verdade?

3 comentários:

  1. Enid, também tenho saudades desse tempo... Por isso, apelo a que, sem banalizar - uma equipa altamente profissionalizada precisa de paz e tranquilidade para trabalhar -, a iniciativa de ontem, não seja apenas uma excepção e no futuro, sempre que possível, aquela proximidade seja multiplicada por 3 ou 4 vezes.

    Beijos

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  2. Iniciativa que saúdo e a merecer várias repetições. Como me revi no teu post...

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  3. Claro que as condições (até físicas) naquele tempo propiciavam o “convívio”. Mas nos tempos de hoje, uma maior proximidade periodicamente concretizada só traria benefícios para ambas as partes: atletas e adeptos.

    Abraço.
    BIBÓ PORTO!

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