05 agosto, 2009

Entrevista a Antero Henrique


"Prontos para o campeonato mais difícil dos últimos anos"
JORGE MAIA

A seis dias do arranque oficial da temporada, o responsável pelo futebol portistas faz um balanço positivo da pré-época do tetracampeão nacional, não só ao nível do que eram os objectivos desportivos, mas também ao nível da projecção da marca, nomeadamente através da participação na Peace Cup. Pelo meio, Antero Henrique pede cuidado aos árbitros na protecção a jogadores como Hulk e reconhece que os adversários estão mais fortes, mas avisa que o FC Porto está preparado para defender o título e atacar o penta

Este plantel está fechado ou ainda há espaço para retoques de última hora?
Nos dias de hoje, todos os plantéis estão sempre fechados e sempre abertos.

Se estiver aberto, está para reforçar o ataque?
Essas são especificidades nas quais não vou entrar. São análises que fazemos a nível interno e, a partir das conclusões que tiramos, em conjunto com a equipa técnica, agimos da forma que entendemos e podemos. O FC Porto não contrata os jogadores que quer, mas aqueles que são mais adequados.

Kléber seria um jogador adequado?
Não comento.

E no capítulo das saídas, Bruno Alves não é uma preocupação?
Não é uma preocupação, simplesmente porque nada mudou desde a última vez que o presidente do FC Porto falou sobre o assunto, e de forma muito clara. Toda a gente sabe que existe uma cláusula e toda a gente sabe que o FC Porto pretende que o jogador continue. Também é público, porque o FC Porto tornou público, que não há qualquer proposta para a transferência do jogador.

Considera que a equipa está preparada para o arranque da temporada?
Achamos que a equipa está preparada para iniciar as competições porque confiamos nos jogadores que cá estavam e acreditamos nos jogadores que chegaram. Aliás, o FC Porto é a única equipa nacional, a par do Paços de Ferreira, que pode lutar pelas quatro competições internas. Estamos em condições e apetrechados para lutar por essas quatro competições. Para já, vamos à procura de conquistar a 16ª Supertaça e queremos fazê-lo com apoio daquele que consideramos ser o nosso primeiro jogador, não o 12º. Para o FC Porto, para a estrutura, para os jogadores e para os técnicos, o nosso público é o primeiro jogador.

Há uma hipótese de o FC Porto poder ser a única equipa na Champions esta temporada…
Não acredito. Tenho a certeza de que o Sporting vai conseguir o apuramento e vai garantir a presença na fase de grupos da Champions ao lado do FC Porto como representante do futebol português na primeira competição de clubes do Mundo.

Um grande desafio em perspectiva para a conquista do penta, então?
O mais difícil dos últimos anos, claramente. Mesmo dos anos a seguir àqueles em que não ganhámos.

Prontos para ele?
Absolutamente preparados.
A começar pela Supertaça…
A Supertaça é muito importante para o FC Porto, pelo seu valor intrínseco, por sermos o clube com mais títulos na competição, mas também se disputar numa fase crucial da temporada. Por isso mesmo, esperamos que os adeptos do FC Porto invadam Aveiro e nos acompanhem em mais esta conquista. O nosso público percebe a estratégia do clube em relação à integração dos jogadores e sabe que pode ter um papel determinante na construção e consolidação da equipa porque entende que a integração dos novos deve ser feita com o auxílio de todos. E é com a ajuda de todos que conseguimos ter equipas fortes e competitivas.

"Estamos na primeira divisão do futebol mundial"
Que balanço é possível fazer à pré-temporada que está agora a terminar?
O balanço desta pré-temporada é muito positivo, desde logo porque demos seguimento às pretensões do treinador no que diz respeito à preparação da equipa, mas também porque conseguimos projectar a nossa marca, participando na Peace Cup. Este torneio veio para a Europa por sugestão do FC Porto, feita há alguns anos, e porque considerávamos que participar num torneio deste tipo no Oriente, nesta fase da temporada, traria grandes custos para a preparação da equipa por causa das deslocações envolvidas. A sua deslocação para a Europa torna-o muito mais interessante em termos daquilo que são os objectivos dos clubes envolvidos, mas também reforça a sua importância situando no principal mercado futebolístico Mundial, um reforço perceptível no nível dos clubes envolvidos na prova deste ano.

Portanto, a participação na Peace Cup não obedeceu a objectivos estritamente desportivos?
Os aspectos desportivos são sempre a nossa prioridade, mas torneios deste nível colocam-nos em destaque em mercados muito agradáveis para a nossa marca, porque chegámos a todo o Mundo através das transmissões televisivas para mais de 40 países diferentes. De tal forma que, além do ponto de vista desportivo, no financeiro, o FC Porto tem sido a equipa portuguesa mais solicitada, talvez das mais solicitadas a nível europeu para participar neste tipo de competições, conseguindo terminar a pré-época com um saldo bastante positivo de mais de um milhão de euros. Mas também ao nível da divulgação, da expansão, do impacto cultural e social a nossa participação na Peace Cup foi muito importante para o FC Porto, confirmando a sua presença entre a elite do futebol europeu e na primeira divisão do futebol mundial.

O FC Porto recebeu outros convites para além deste?
Sim, para participar no Juan Gamper, por exemplo, mas não pudemos aceitar. Basicamente, temos convites para participar nos torneios mais importantes que se realizam actualmente e alguns para torneios que, no passado foram grandes testes, e que agora são desvalorizados e por isso já não nos interessam porque são redundantes e inconsequentes do ponto de vista da expansão, consolidação e prestígio da marca FC Porto. Para um clube com a projecção do tetracampeão português, a Peace Cup é o torneio de Verão que mais interessa no sentido da projecção da marca.

Resumindo, o FC Porto termina a pré-época sem razões de queixa?
Não é bem assim. Há algumas coisas que não entendemos. Por exemplo, tenho de manifestar estranheza pelo facto de a RTP, consecutivamente, colocar o FC Porto em terceiro lugar nos alinhamentos televisivos. Ou querem premiar a mediocridade ou então está em causa o interesse pessoal de algum responsável em particular. E esta é uma situação preocupante por se tratar da estação pública. Quando falamos de estações privadas falamos de objectivos comerciais e de políticas editoriais que são avaliadas pelo mercado, mas essa não pode ser a atitude da televisão pública, onde a isenção e a equidistância devem ser a regra. Pelos vistos não são e nós gostávamos de saber porquê.

"Sporting e Benfica estão fortíssimos"
Como viu a pré-temporada dos principais adversários do FC Porto?
Acredito que este ano o campeonato vai ser muito difícil. É preciso levar em conta que o Sporting contratou dois excelentes jogadores e volta a apresentar uma grande estabilidade quer ao nível directivo, com a continuidade de Pedro Barbosa à frente do futebol, quer ao nível da equipa técnica. No ano passado ficou a apenas quatro pontos do FC Porto, revelando-se um adversário dificílimo até ao final da temporada. Acredito que este ano, sem grandes perdas no plantel e com os reforços contratados, será ainda mais forte e um concorrente de peso.

O presidente do Sporting disse que o FC Porto era o seu grande concorrente. O Sporting também é a principal preocupação do FC Porto?
Não. O FC Porto preocupa-se com todos os adversários. Para já, é o Paços de Ferreira que nos vai ocupar. Depois, são os outros que, semana a semana ou jogo a jogo, nos aparecerem pela frente.

Isso significa que só se preocupam com o Benfica quando for o próximo adversário?
Em relação ao Benfica, é preciso reconhecer que também está fortíssimo e isso porque tem um treinador que fez um bom trabalho nos clubes por onde passou. De resto, o Rui Costa, responsável pelo futebol do clube, tem muita experiência, excelentes conhecimentos a nível internacional e tem mantido uma grande coerência de procedimentos, mostrando grandes capacidades para as funções que desempenha.

"Não temos culpa que os jogadores nos prefiram"
Considerando que saíram três jogadores importantes e que entraram mais de uma dezena de jogadores novos, até que ponto foi importante manter Jesualdo Ferreira como treinador?
Foi fundamental. O FC Porto tem um treinador de conceito. O professor Jesualdo Ferreira é um dos principais elementos constituintes da marca FC Porto, como de resto acontece com toda a equipa técnica. É ele o grande coordenador e o grande líder de todo o futebol profissional. Da mesma forma, Will Coort tem responsabilidades no treino dos guarda-redes também no futebol juvenil, enquanto João Pinto coordena todas as acções em torno dos jogadores emprestados pelo FC Porto. José Gomes, para além de ser o braço direito de Jesualdo Ferreira, também participa na definição das linhas de orientação de todo o futebol de formação, a par de Luís Castro, enquanto Rui Barros mantém uma estreita ligação ao "scouting" do clube. De resto, Jesualdo Ferreira é o grande coordenador técnico e líder do futebol profissional e não profissional do clube. Pode dizer-se que a estrutura escolhe os jogadores de acordo com os conceitos dele, e o treinador aprova essa escolha segundo aquele que é o seu método de trabalho e de treino.

É, então, o treinador ideal para o FC Porto?
Sem dúvida. É o treinador ideal por ser multidisciplinar e por ser 100 por cento colaborante com todas as estruturas do clube, desde a formação, até ao "scouting". Existe uma relação de complementaridade entre o FC Porto e Jesualdo Ferreira. Aliás, não é por acaso que ele se tornou no primeiro treinador português a vencer três campeonatos consecutivos. Se é verdade que o FC Porto lhe deu as condições para ele explorar todo o seu potencial, o facto é que esse potencial estava lá e ele soube aproveitar as condições proporcionadas pelo FC Porto. De resto, para além dos resultados desportivos, o sucesso desta parceria entre o FC Porto e Jesualdo Ferreira também é perceptível ao nível dos jogadores que ele formou, que ganhou para a equipa, que saíram para grandes clubes europeus e que, entretanto, ele já conseguiu substituir por outros de igual ou superior valor.

E esses jogadores ainda se podem definir como "jogadores à FC Porto"?
Claro. Procuramos encontrar precisamente jogadores cujo perfil se adequa e integre a marca FC Porto. A nossa marca tem um ADN muito próprio e é com base nele que procuramos jogadores que correspondam a determinadas características desportivas, mas também mentais, sociais e comportamentais. Jogadores à FC Porto. Caso contrário será muito mais difícil construir uma equipa sólida.

Rejeita, então, a ideia de estar preocupado em tirar jogadores ao Benfica?
Essa questão não existe. Não podemos é ser culpados de os jogadores nos preferirem. O mercado está aberto a todos e os jogadores escolhem o FC Porto com base em argumentos desportivos e não financeiros. Se os atletas preferem o FC Porto, se acham que aqui têm mais hipóteses de se desenvolverem, se preferem estar num patamar superior ao nível competitivo, tiramos partido disso, obviamente. O mercado e os jogadores são livres.

"Árbitros devem proteger jogadores como Hulk ou Ronaldo"
A Peace Cup ficou marcada por algumas arbitragens polémicas. Acha que isso pode ser um mau prenúncio para a temporada que aí vem?
Espero que não. Foi pena que não estivessem árbitros portugueses presentes na prova porque este é, claramente, o melhor torneio de pré-temporada, mas também porque, infelizmente, a Peace Cup ficou, de facto, marcada pela fraca prestação dos árbitros envolvidos, sobretudo no caso do que esteve envolvido nos últimos dois jogos do FC Porto. De tal forma que somos forçados a concluir que a arbitragem portuguesa está num bom patamar.

Também devia haver uma pré-temporada exigente para os árbitros?
Sem dúvida. Aliás, há uma preocupação que sai deste torneio e que tem a ver com a protecção que é dada a quem joga futebol. Se repararmos no que aconteceu ao Hulk no jogo com o Besiktas, mas também ao Cristiano Ronaldo no jogo com a Juventus, chegamos à conclusão de que os árbitros devem preparar-se para os jogos que tenham este tipo de jogadores. Este tipo de jogador requer preparação especial por parte dos árbitros para entenderem a forma como jogam. O antijogo não pode ser premiado e tem sido. É por isso que faço um apelo aos responsáveis da arbitragem portuguesa para enquadrarem este tipo de situações e darem instruções claras aos no sentido da protecção do jogo. Mas que não sejam apenas palavras vãs, que passe pela formação dos árbitros para que entendam a forma como estes jogadores participam no jogo. Seria bom que tal fosse uma realidade antes que acontecessem lesões graves.


fonte: O Jogo

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